Thursday, February 03, 2005

se um poema às três e meia

não o quero num poema às três e meia
saciado ressonando entre os lençóis.
não o quero sob os olhos
sobre a pele.
não o quero quando agora a sós
me quero.

é que o tempo embora seja o mesmo tempo
se renova e reedita (não se esvai).
e esse tempo de marés que
ora vazam
me sussurra que em seu bojo
não o inclui.

deixe pois que se guardem as lembranças
dos olhares (desde as pontas dos dedos)
às palavras soletradas
pele-a-pele
que inda dizem em cada língua
eu e você.

não as quero num poema às três e meia.
nem a elas nem a mim nem a mais nada
que sussurre de nós dois sobre
lençóis.
(nem tampouco um poema
às três e meia).

quero só às três e meia aqui dormir
sossegada sob meus lençóis azuis.
se você aqui chegasse
eu diria:
não é hora meu amor
volte depois.



Márcia Maia

1 comment:

Peter said...

Márcia, eu é que te estou duplamente agradecido: pelo teu poema e por teres visitado o meu blog.