Depois do sangue misturado,
depois dos dentes, dos lamentos,
estamos deitados, lado a lado,
e desfolhamos sofrimentos.
Temos trint'anos, mais trezentos
de sofredora exaltação.
É este o cabos dos tormentos?
Ai, não e não! Ainda não.
Saboreamos o passado
por entre os beijos mais violentos
e mais subtis que temos dado.
E o monumento dos momentos
oscila, desde os fundamentos,
a tão febril consagração.
Mas estacamos, sonolentos.
Agora, não. Ainda não ...
Tudo se torna esbranquiçado:
eram azuis, são já cinzentos
os horizontes do pecado ...
Há nos teus ombros turbulentos
cintilações, pressentimentos ...
Os nossos corpos descerão
para que abismos lamacentos?
Ah! não, e não! Ainda não!
Eis-vos, de novo, movimentos
que apunhalais a inquietação!
E assim unidos gritaremos
que não e não! que ainda não!
(David Mourão-Ferreira)
3 comments:
Adoro este poema!
Já estive para o colocar no meu Blog, mas na altura, não me decidi pela imagem e, por isso, resolvi colocar "Deixa ficar a Flor".
Um momento lindo, este... de
poesia...
"...Tudo se torna esbranquiçado:
eram azuis, são já cinzentos
os horizontes do pecado ..."
Abraço ;-)
Gosto, gosto, gosto...
Quente!...como eu gosto!
Jinho, BShell
E... dizer o que, a tao bela "exaltacao"!???.....
...........................E' sempre BOM vaguear por *AQUI*!
Meu Abraco!
Heloisa.
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