Há palavras que esperam que o branco as desnude
para se tornarem transparentes e vazias
A delicadeza da lâmpada é uma oferenda do olvido
a folha flexível é uma luva vegetal para a mão que oscila
Como o abdómen de uma adolescente
a página suscita a fértil fragilidade
de uma caligrafia que se apaga sobre os sulcos de neve
Aí aparece a graciosa metade
Em que cintila o pólen da límpida abolição
Escrevo para ser contemporâneo das nuvens
Para pertencer à pobre e nua pátria inerte
Coberta pelo violento alfabeto dos cláxons
Escrevo para que se levantem os pássaros de areia
E ao pulverizarem-se espalhem a poeira do seu desaparecimento
(António Ramos Rosa, “Génese”, Roma Editora, FEV 2005)
10 comments:
Já não é a 1ªvez que transcreves Ramos Rosa o que muito me agrada.
A fotografia é explêndida!
mfc, julgo ter sido o último livro publicado pelo ARR.
A foto não é minha, pertence ao meu arquivo e já não consigo identificar a sua origem.
As minhas fotos são "bilhetes postais" de locais que vou fotografando, durante as minhas deambulações pela Europa. Tenho muitas centenas (milhares?) que fui fazendo, mas torna-se um pouco dispendioso passá-las para CDs, como tenho vindo a fazer.
luna, iniciei-me (iniciaram-me ...) na poesia com o ARR. A foto não foi tirada por mim. Origem desconhecida.
Vamos ganhar ao Nacional?
...o link do Peter e o link do Magoo nunca sairam do meu blog
...nunca soube o porquê desse "desaguizado" mas como nunca senti culpa do que quer que fosse, mantive a linkagem
...por isso, claro que podes linkar
...um abraço
lobices, enviei-te um mail; espero que compreendas.
Abraço
Bom domingo.
Obrigada pela visita.
Claro que pode colocar o excerto que entender.
Abraço,
Deixo Meu ABRACO, Peter8!
Belissima IMAGEM!
OS POEMAS SAO SEMPRE DO MELHOR!
Fique BEM!
heloisa.
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lazuli, como sabes, é a sonata Für Elise, escrita pelo Beethoven a um dos seus amores.
Sempre gostei muito dela, não só pela música em si, como pelas recordações que me traz.
São poucos os poemas que conheco de António Ramos Rosa, e este foi mais um que passei a conhecer e de que gostei.
A foto e o poema fazem um conjunto esplêndido!
Beijos e uma boa semana*
António Ramos Rosa e Beethoven, uma dupla que as minhas palavras não conseguem exprimir o quanto gosto de os sentir aqui...
Óptima escolha!
Um abraço terno ;)
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