Wednesday, January 10, 2007

Ternura


Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada …

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio …

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo …

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós! …

(David Mourão-Ferreira, “Música de cama”, Editorial Presença)



Em 1986 a Editorial Presença publicou o romance "Um amor feliz" de David Mourão-Ferreira, que foi um sucesso. Comprei e li o referido romance, mas talvez eu não estivesse preparado para ele, pois havia outro livro, mais real e menos apaixonado: "Os nós e os laços", do António Alçada Baptista. Não há comparação possível. Mas este parecia ter sido escrito sobre a minha vida na altura e daí eu ter-me identificado com ele.
Hoje eu preferiria o primeiro, como prefiro o DMF e assim o livro “Um amor feliz”, uma primeira edição, se por acaso ainda existe, mora noutra casa.

10 comments:

Peter said...

EXPERIÊNCIA

11 Janeiro 2007

Maria Carvalho said...

Já está ok para comentar!! Adoro o David Mourão Ferreira! Qualquer poema dele traz sempre uma carga de sensualidade e algum erotismo que acho fascinante. Gostei muito de ter lido aqui. Beijinhos para ti.

Anonymous said...

O poema que mais gosto de David Mourão Ferreira pela ternura que exala.
Beijo

Kalinka said...

Iniciou-se a contagem decrescente para o lançamento do livro:
«Que é o Amor?».
Colaborei com um texto da minha autoria , dedicado a todos que passaram na minha Vida e, que de alguma forma, deixaram momentos inesquecíveis: mas, principalmente a alguém muito especial que nasceu dia 7 de Fevereiro e que, por não pertencer ao Mundo dos vivos, guardo com muito Amor, na minha memória (minha Mãe).
É uma excelente oferta em qualquer altura, mas como se aproxima o Dia dos Namorados, será bom começarem a preparar as vossas encomendas quanto antes.

Beijos e abraços.

BlueShell said...

Os textos que escolhes, as palavras que dizes...revelam alguém puro, íntegro...alguém que apetece muito abraçar!
Considera-te abraçado, meu amigo!
BShell

peciscas said...

Chego aqui pela mão de um amigo comum e deparo com alguèm que andou no "velho" Liceu Nacional de Évora, onde também andei, há muitos anos atrás.
Aliás, a minha sala ficava naquele cantinho do lado direito que já não se vê na foto.
Como o tempo passa...

Menina Marota said...

Um dos poemas que eu mais gosto de DMF.
Desse e deste que aqui te deixo, com un grande Abraço.


"E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos."
(Poema de David Mourão Ferreira)

Bj e bom fm de semana
;)

Nilson Barcelli said...

Não li "Um amor feliz" e, por isso, não posso comparar com o do Alçada baptista, que li e gostei.
Um abraço.

Amita said...

Ausente
meu terno amigo
ausente sou de visitas e palavras
que no meu sentir se espalham
por todos os cantos e me calam

Apenas ausente
desse voo pleno,imenso
no vento de asas tecido
assim diferente e antigo
delineado no silêncio.

Um Janeiro incongruente
preenchido e dolente
sorveu espaços e asas.
Mas sempre sou contigo
nos planos, leves, tecidos
na poesia que espalhas.
Bem-Hajas!

De um miminho e com carinho se doba
e desdobra um simples poema na ternura de uma grande Amizade.

Um bjo e uma flor para alegrar o teu fim-de-semana

Anonymous said...

...daquela em que se tropeça por.






um abraço.