Sunday, November 18, 2007

A bunda, que engraçada








".Está na hora de o erótico (ou pornográfico) fazer parte natural da obra dos poetas"
(Prefácio de Affonso Romano de Sant'Anna)






A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gémeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,
redunda.

(Carlos Drummond de Andrade)

O poeta faleceu em 17de Agosto de 1987, deixando cinco obras inéditas, entre as quais "O amor natural", de cuja 15ª ed publicada pela Editora Record Ltda, Rio de Janeiro, retirámos este poema.
Este projecto de reedição faz parte do início das comemorações do centenário de nascimento do poeta (1902 em Itabira, Minas Gerais).

A sua publicação nesta espécie de blog, não visa obter qualquer lucro ou vantagem.

10 comments:

Paula Raposo said...

Já conhecia este poema de Drummond de Andrade, que eu acho perfeitamente delicioso...

Rui Caetano said...

O poema é uma maravilha, mas a bunda é ainda melhor.

Kalinka said...

OLÁ PEDRO

GOSTO MUITO DE «DRUMMOND DE ANDRADE».
Muito obrigado pela partilha.

Volto a visitar-te
tenho-o feito em silêncio
porque o negro me enche o peito,
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio por um pouco de respeito
Quem me conhece...
já me viu sorridente,
com uma ligeireza nas palavras
e no olhar
É isso: Asas abertas!
Voar, preciso de voar
para onde o carinho e a Paz
me acompanhem
Preciso de Amigos/as
que murmurem palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago! É disso que preciso.

Quando a raiva e a dor me apertam no peito, por vezes, desabafo.
Sou Feliz por sentir que ALGUÉM se preocupa comigo.
Beijos.

Heloisa B.P said...

CARISSIMO AMIGO PETER*,
Acabo neste momento de ver seu comentario no meu blog e so' vim aqui a correr para lhe dizer que NUNCA cometeu nenhuma incorrecao comigo!
Eu tenho-Lhe, volta que nao volta deixado mensagens no conversa de Xaxas do multiply, e no SEU e, escrevi alguns e-mails aos quais nao obtive resposta o que penso nao lhe chegaram as maos_olhos, porque, talvez vao parar ao seu "lixo electronico" como me acontece a mim, varias vezes, so' que eu ando sempre a repesca'-los la'!
MEU CARO AMIGO*, minha saude sim, essa me causa muito mal e me impede de varias coisas que gosto, sendo uma delas sr mais PRESENTE JUNTO DAQUELES QUE ME MERECEM AMIZADE RESPEITO E ADMIRACAO!_O PETER PERTENCE A ESSE GRUPO!
ABRACO IMENSO!!!!
Sua amiga,
Heloisa.
**********
PS: atrevo-me a pedir-lhe que me escreva um e-mail para que eu possa responder directo e ficar com o ENDERECO CORECTO!
_ESTEJA EM SAUDE MEU AMIGO!
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Anonymous said...

Obrigada, Peter, pela sua visita .E pelas suas palavras generosas.
Claro que pode publicar o poema nesta sua Casa. Deixo-lhe mesmo aqui.Assim poderá pegá-lo quando quiser.
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ofício da noite


à noite lavo a cara com lume
desenho o mistério de uma criança de música
com palavras de nuvens e peixes de sol na boca
a segredar poemas de inventar ternura.

persigo estrelas que se arrastam pelo lodo
enxugo as lágrimas da lua cercada pelo fogo.

que mais posso fazer
com estas ocultas teias da chuva
lágrimas que só ostento
com meus versos de ranger dentes ?


quero um punhal para abrir as casas
e mãos de seda com lâmpadas nos dedos
para aquecer os mendigos com espinhos
e labaredas nas ruas !

não me tragam cicatrizes de metal
nem a cinza dos cabelos dos homens
a fingir que somos todos aves
a rasgar o céu
com a beleza estrangulada em rosas!

estou farta de bocas a gelar lágrimas
em contentores de deuses
relógios de solidão
a apodrecer nas mãos!


maria azenha


Um Abraço,


***

LUIS MILHANO (Lumife) said...

Um belo poema que faz parte da chamada Poesia Erótica nunca entrando no campo pornográfico.


Abraço

São said...

Bom rever Carlos Andrade!
Quanto à bunda em si, deixo a apreciação para os comentadores masculinos...AH!AH!AH!
Bom dia!

Nana Lopes - @Nanamada said...

Sou fã do mineiro Drummond.Seu blog é muito interessante.Bjkas

Anonymous said...

o eterno Drummond.....

No dia 24 de Novembro de 2007, foi publicada no semanário Expresso, uma entrevista do Inspector Geral da Administração Interna, Dr. António Clemente de Lima, anunciada na capa com o título “Há incompetência a mais na polícia”, a qual teve um efeito bombástico transversal, pondo o país em sobressalto.

Lord of Erewhon said...

Um dos maiores poetas de Língua Portuguesa, daqueles que serão lidos enquanto existirem seres humanos.