Sunday, November 07, 2004

porque só desaparaecem as pessoas que nunca foram amadas

...porque só desaparecem as pessoas que nunca foram amadas...
(Zélia Gatai)

“Hoje, a saudade de ti: punhalada
de tinta muito branca,
o cheiro do que é novo, o cheiro da
doença a alastrar

Se estivesses aqui, dirias o meu nome
corrigias-me as coisas, e tudo estava
bem, mesmo que dentro de sentido
opaco

A tinta muito branca, o cheiro
que é do novo, aqui, neste café,
corrigem-me a memória:
o cozinhares tão mal, a desarrumação
em tantos cantos,
os nomes que criavas
para chamares às coisas
outra coisa

E os pedidos depois,
súplicas do silêncio e do não choro,
tenacidades de viver igual,
e não ceder a tanto – e não ceder

Hoje, em tão grande a saudade,
minha amiga,
nem sei o que me resta:

sonhar com o telefone a tocar,
e a voz,
ou eu a corrigir-me o hábito
do número – “

(Ana Luísa Amaral, “Imagias”)






7 comments:

Amita said...

Não sei que comentar. Estou como a Gisele "será?" e como o Manoel Carlos "A saudade mata a gente". Não sei em que contexto está a frase de Zélia Gatai, escritora de quem gosto e mulher do grande Jorge Amado. Bjos

Peter said...

"Amita" - as pessoas que amamos permanecem vivas nas nossas recordações.É isso que a Zélia diz e que a autora do poema utiliza como mote para recordar aquele que ela amou.

Peter said...

Olá Manoel Carlos! É bom ver-te por aqui.Já estive hoje no teu blog,mas não havia "coisas" novas.

Peter said...

Agora é que vi uma "gralha" poisada no título.Acontece ...

Maria_Oliveira said...

E a inversa... (?)...

K said...

Nem sempre, por vezes os que amam também desaparecem, até as recordações desaparecem...Tudo desaparece...É a condição humana nada invejável...

Anonymous said...

Peter, acredito que algures nos baús da memória guardamos sempre as gratas recordações.
Um abraço companheiro e amigo.

P.S. Convido-te com solenidade para passares a escrever um artigo - pelo menos um por mês - sobre a tua temática preferida.
Gostaria que aceitasses.