Estuda com olhos de bem ver
Esse pedaço de pau preto
Que um desconhecido irmão maconde
De mãos inspiradas
Talhou e trabalhou em terras distantes lá do norte.
Ah! Essa sou eu:
órbitas vazias no desespero de possuir a vida
boca rasgada em ferida de angustia,
mãos enorme, espalmadas,
erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça,
corpo tatuado feridas visíveis e invisíveis
pelos duros chicotes da escravatura...
torturada e magnífica
altiva e mística,
africa da cabeça aos pés,
- Ah, essa sou eu!
Se quiseres compreender-me
Vem debruçar-te sobre a minha alma de africa,
Nos gemidos dos negros no cais
Nos batuques frenéticos do muchopes
Na rebeldia dos machanganas
Na estranha melodia se evolando
Duma canção nativa noite dentro
E nada mais me perguntes,
Se é que me queres conhecer...
Que não sou mais que um búzio de carne
Onde a revolta de africa congelou
Seu grito inchado de esperança.
( Noémia de Sousa - In "Notícias", 07.03.1958, página "Moçambique 58" )
Saturday, January 29, 2005
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13 comments:
Pois é Manoel Carlos, o melhor é mandar o Sapo para o charco. O "conversas3" irá sair noutro servidor. Eu e o "LetrasAoAcaso" (Zé) estamos a tratar disso.
Maravilhosa descrição de África em poema. Bjos
Belo poema, onde a força e o apelo de África são ditos de forma muito especial! Boa semana, Peter.
Poema forte e preciso.
Os sons e os sentires de África são sempre fortes.
"amita", é preciso dar lugar à poesia africana de expressão portuguesa. Daí a sua publicação.
"lique" não sei se reparou na data: 1958. É portanto um poema publicado antes do início da guerra colonial. Não sei como foi possível a sua inserção na revista "Notícias". Boa semana e que seja menos fria.
"mfc", por alguma razão a África teria sido o berço da Humanidade, mas nós esquecemo-nos disso ...
Bonito poema, Peter! retratando bem a revolta... a alma de África! grata pelas palavras amigas, Paula
Bonito poema, Peter! retratando bem a revolta... a alma de África! grata pelas palavras amigas, Paula
"Quando as minhas angústias
começam a morder-me
ponho-lhes a trela
saio à rua a passea-las
e deixo-as ladrar
ao tédio transeunte.
Depois ponho-lhes asas
e deixo-as voar
como pássaros
em busca de primaveras
imprevisíveis."
Autor :António Tomé
Título:Coleccionador de Quimeras
Falar de Angola dói-me. Não esqueci. Um abraço bloguista
http://eternamentemenina.blogs.sapo.pt/
Poema lindo, intenso...Não conhecia: gostei. Jinho, BShell
tudo bem peter... beijo...gisele
"Menina marota", a autora era moçambicana. Grato pela tua visita.
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