Thursday, February 17, 2005

Fernando Namora

É interessante evocar-se a poesia do escritor, eu que a conheço tão pouco, embora tivesse tido a sorte de o conhecer pessoalmente.
Médico em Pavia, onde escreveu “O trigo e o joio” (que lhe trouxe problemas com as pessoas da terra, que ali se viam retratadas), nos “Retalhos da vida de um médico” fala da Feira do S.João em Évora e do comportamento das gentes de Arraiolos (num retrato fiel da época) que ele tinha de atravessar, para se deslocar àquela cidade. A sua ida para Pavia verificou-se depois de uma passagem por Monsanto ( a que, por circunstâncias da vida também estou ligado). Foi ali que escreveu “Um sino na Montanha”.
E foi talvez aí, por Monsanto, ou Penha Garcia, que escreveu este poema:
“Onde fica o mundo?
Só pinhais, matos, charnecas e milho
para a fome dos olhos.
Para lá da serra, o azul de outra serra e outra serra ainda.
E o mar? E a cidade? E os rios?
Caminhos de pedra, sulcados, curtos e estreitos,
onde chiam carros de bois e há poças de chuva.
Onde ficava o mundo?
Nem a alma sabia jogar.
Mas vieram engenheiros e máquinas estranhas.
Em cada dia o povo abraçava um outro povo.
E hoje a terra é livre e fácil como o céu das aves:
a estrada branca e menina é uma serpente ondulada
e dele nasce a sede da fuga como as águas dum rio.”

(do livro TERRA, "Novo Cancioneiro", Coimbra, 1941)

3 comments:

Anonymous said...

Olá peter tudo bom.... qto tempo... ando assoberbada... beijo... boa noite... gi

Peter said...

Boa noite Gisele.

mfc said...

É um português do sentir.