Tuesday, May 17, 2005

DIÁLOGOS POÉTICOS - COROA DE SONETOS

por Paulo Camelo, Nathan de Castro, Lisieux de Souza, Carlos Savasini e Andréa Motta



TEMPESTADE
lisieux

"Tingindo de saudade os devaneios"*
espanto o cinza-escuro da saudade
e volto a ter o ardor da mocidade
e deixo explodir-me o amor nos seios

esqueço as nuvens feias, tempestade
que varre estes meus dias e me afoga
esqueço o barco que perdido voga
nos mares tenebrosos da maldade

e volto a ser menina no teu braço
e no teu peito esqueço o meu cansaço
deixando-me embalar no teu amor

é pena que esta noite sempre acabe
que a chuva forte o teto meu desabe
e eu me afogue em sofrimento e dor.

* Verso de Nathan de Castro

BH - 16.02.05 - 13h17m



CICLOS DAS ÁGUAS
Nathan de Castro

Tingindo de saudade os devaneios
navego nas palavras... Meu navio
não sabe as águas turvas desses veios,
mas sabe todo o encanto do teu rio.

Rio de cachoeiras... Ah! Os bloqueios
de rimas pontiagudas no sombrio
cenário que desperta os meus anseios,
para que o verso enfrente o desafio.

Silêncio!... O céu da tarde se prepara
para cumprir o ciclo, e as novas águas
encharcam o meu chão com velhas mágoas.

Tudo é mistério!... E o verde na seara
confirma, e enquanto bebo a tempestade
espanto o cinza-escuro da saudade.


MOCIDADE
Paulo Camelo

Espanto o cinza-escuro da saudade
e lembro os meus brinquedos de criança
enquanto invento os passos de uma dança
e vou usufruindo a minha idade.

Espanto, mas me apego como posso
ao tempo que passou e já não volta.
Eu vivo essa ilusão. Não há revolta.
Em meu semblante outro sorriso esboço.

As cenas vão passando em minha mente
enquanto eu vou cantando uma canção
que eu aprendi em muito tenra idade.

Isso me traz de volta, de repente,
um outro mundo, um mundo de emoção,
e volto a ter o ardor da mocidade.

19/02/2005 - 12h50min.


MUDANÇAS
lisieux

E volto a ter o ardor da mocidade,
coloco nos meus olhos novo brilho,
tentando, meu amor, voltar ao trilho
que me conduza ao encontro da verdade.

Cansei de ser ingênua criatura
à espera de teus beijos, de teus gestos
cansei de estar à cata dos teus restos
e resolvi, enfim, ser mais madura.

Não quero mais sofrer inutilmente
quero sorrir, viver, olhar em frente,
sem me perder em loucos devaneios.

Eu guardo a tua imagem na retina
porém insisto em mudar minha sina
e deixo-me explodir o amor nos seios.

BH - 19.02.05 - 23h40m


ENTREGA
Paulo Camelo

E deixo explodir-me o amor. Nos seios
de quem amo eu hei de descansar,
hei mergulhar nos olhos de luar,
hei de explodir o amor sem mais rodeios.

E deixo perfumar-me seu frescor.
De sua pele sorverei o aroma
e guardarei, nos lábios em redoma,
esse divino canto, esse louvor.

E cantarei o amor na minha vida,
e viverei bem mais que todo o mundo,
e eu amarei por toda a eternidade.

E vivo a minha vida bem vivida.
Amando o meu amor, forte, profundo,
esqueço as nuvens feias, tempestade.


BUSCA
Carlos Eduardo Savasini Ferreira

Esqueço as nuvens feias, tempestade,
Abraço meus queridos com vigor,
Aqueço os que me querem, meu amor,
Padeço sem paixão, sem amizade.

Meu destino é buscar a brisa sul
Que leve meu cortejo rumo ao norte
No barco de pequena vela, sorte
É ter brisa constante e céu azul.

Não deixo em terra pai, nem mãe, nem filhos,
Trago todos ao lado desta vela
Pelo amor que se dá e não se roga.

Vamos todos, o mar dispensa trilhos,
Bonança se aproxime, quero vê-la,
Que varre estes meus dias e me afoga


SUPERAÇÃO
Andréa Motta

Que varre estes meus dias e me afoga
de alegria ao sentir o teu carinho.
E, não sendo menina, faço ioga
e me derreto ao som de um bom chorinho.

Cada dia mais forças eu encontro
para de mim tanger essa apatia
pois eu não vivo mais em agonia
se já me conduziste ao reencontro

desse viver perene com harmonia
e meu olhar que, antes reticente
agora,intenso, brilha e te pertence

Porém, não penses que tu já dominas
meu coração errante. Eu apenas
esqueço o barco que perdido voga.

25/02/05


LIBERTAÇÃO
Andréa Motta

Esqueço o barco que perdido voga
naquele imenso mar algoz e estóico.
Incólume visto a minha negra toga
e o pensamento flutua impudico.

Se hoje a minha a imaginação adeja
livre, por entre dogmas e os sonhos.
Os dramas tornam-se enfadonhos
e, então, o medo sirvo na bandeja.

A essas tristezas eu não estou imune
mas com meu peito aberto, altivo enfrento
as tais agruras do agrilhoamento.

Saudando a vida com felicidade,
esqueço aquele intenso desalento
nos mares tenebrosos da maldade

25/02/05


REVIGOR
Paulo Camelo

Nos mares tenebrosos da maldade
o mundo não dá trégua. Meu amor
não tem mais a rijeza, não tem cor,
e o sentimento que o meu peito invade

é fruto de saudosos carnavais.
Vivi na juventude um sonho louco
e agora vou morrendo, pouco a pouco,
aquele sonho já não vivo mais.

Mas teu amor me revigora o ser,
o mundo de maldades perde o pleito
e o corpo todo vibra sem cansaço.

Eu não sou jovem mais, é bom dizer.
Mas teu amor explode no meu peito
e volto a ser, menina, no teu braço.

25/02/2005


NOVA CHANCE
lisieux

E volto a ser menina no teu braço
envolta no aconchego do teu colo
o teu carinho, sem pudor esmolo
segura durmo, amor, no teu regaço

Sei que és experiente e que és maduro
-também não tenho mais dezoito anos!
Sei que nós dois sofremos desenganos
e nos perdemos em caminho escuro.

Porém é hora de nos concedermos
voltar no tempo e reconhecermos
que nunca foi desfeito o nosso laço...

Eu sei, amado: o nosso amor não morre!
Beijo-te a boca enquanto o tempo corre
e no teu peito esqueço o meu cansaço.


REGAÇO
Carlos Eduardo Savasini Ferreira

E no meu peito esqueço meu cansaço,
Nele guardo as lembranças de teu ser,
As imagens, os sonhos prá te ver
Na carícia que dá-me em teu abraço.

Guardo em meu colo corpo enaltecido
No toque do regaço de teu ventre,
Escancaro o salão e digo entre,
Vivo em glória por ter te conhecido.

Deixo de lado as guerras, raiva, ira,
Deixo de lado a fleuma imponderável,
Deixo de lado o porre de licor.

Tu inspiras doçura que'em ti mira
Nobreza de conduta tão afável
Deixando-me embalar no teu amor.

(10/03/2005)


SORTILÉGIO
Andréa Motta

Deixando-me embalar no teu amor
Intensa sinto o corpo, então, tremer.
E minhas mãos em ritmo abrasador
teus lábios buscam até escandecer.

E o amor, platónico que foi, alcança
o clímax no embalo do teu braço.
Nossas ancas ao toque - reboliço.
Sôfregos beijos, desvairada transa.

E depois, corpo e alma saciados
sorrisos plenos e muita promessa.
Pulsa o desejo e a festa recomeça.

Então me aninho e sonho feito louca
Olho no olho, a boca em tua boca.
É pena que esta noite sempre acabe.

02/03/05



DESPERTAR
Andréa Motta

É pena que esta noite sempre acabe
e acorde deste sonho de amor,
e que o descaso seja o arremate
cortando o coração de tanta dor.

Inda aprendo a te amar sem ilusões
e me entregar a tua carnal lascívia
como se fosse o amor, rua de u'a via,
sem medo de futuras punições.

Então esqueço todo o meu cansaço
e as rugas que já marcam minha face.
Finjo não ter o meu peito em pedaço

Deixo assim de ser mera coadjuvante.
Nesta vereda não haverá noite
que a chuva forte o teto meu desabe.

05/03/05


FRÁGIL
Carlos Eduardo Savasini Ferreira

Que a chuva forte o teto meu desabe
E caia dura sobre a consciência
Extirpando de mim toda dormência
Vinda de minha dor, não mais me cale.

Na voz do grito exponho toda perda
Que muda nunca pode delatar :
Sofrer é nunca mais poder te amar,
É cegueira, negrume, luz incerta.

Sem ti, minha querida, meu amor
Nem teto e nem estaca me sustentam,
Desalento que vive sem razão.

Se foges levas contigo a paixão
Deixas meus sonhos que não se contentam
E eu me afogue em sofrimento e dor.

(15-16/03/2005)



Paulo Camelo

E eu me afogue em sentimento e dor!
É tanta a dor que sinto, é tanta assim?
Não há misericórdia... nada, enfim,
em que me agarre, só esse amargor

que trava a voz e nem me deixa o grito,
o grito do animal desesperado,
o medo, a insegurança...? Solto o brado
ao céu, imenso céu, ao infinito

e não escuto nada que me aplaque
essa saudade, essa desilusão,
ou me derrube ao chão, sem mais rodeios.

E fico só, à espera de um ataque
aos sonhos de ternura e de paixão,
tingindo de saudade os devaneios.

3 comments:

BlueShell said...

Todos eles...LINDOS!
Tenho um carinho muito especial pelos da Andrée Motta (Jardim de poesia)

Eu estou bem.
Jinho, BShell

Peter said...

Temos de ir à procura de mais poesia da Andrée Motta ...
Reparaste que o último verso de um soneto é igual ao do soneto seguinte?
Já hoje estive a ver os teus pinheiros, "Conchinha". Linda a música e a fotografia e alegre o poema.

lisieux said...

Olá! Procurando por poemas de meu amigo Nathan de Castro, eis que eu me encontro aqui no seu blog, junto dele, e dos meus outros amigos, Paulo, Andréa e Carlos.
Obrigada pela publicação de nosso exercício poético.
Bjokas e bom final de semana
lis