(“Leitura”, Renoir)
As raparigas do canto que há pouco conversavam
vão-se agora afastando
(entrando pelos casacos)
retomando guarda-chuvas e uma carteira perdida
que a mais alta vem salvar de
entre beatas tomadas por
creme
de bolo e bâton. É o
meio
do dia que leva
a idade das raparigas
certas
de terem logrado em surdina estilhaçada
um
tempo de suas vidas. Esbatem
até à porta
desperdícios de voz mas
não é delas agora o
fito do meu olhar
(antes da mesa de canto que
deixaram alinhada com
a desordem restante). Ah!
como
invejo o rapaz que vai levantar a mesa. Mal
as sente devolver ao desleixo
aquele instante
corre rápido a escolher ruínas de tanta alegria
(não o que sobra pela mesa mas
na espessura do ar:)
cumplicidades secretas
breves
ecos imperfeitos
(alguma sílaba avulso
de
um parágrafo desfeito)
que
afeita ao ouvido com uma fome de tempo
como se
fosse a gorjeta.
(João Luís Barreto Guimarães, in “Rés-do-Chão”)
4 comments:
Gosto de Renoir.
João Luís Barreto Guimarães, nasceu a 3 de Junho de 1967. É médico, vive em Leça da Palmeira e este é o seu sexto livro publicado.
Espectacular!
(vou espreitar na livraria aqui perto...)
beijinho e bom regresso, Peter!
Há coisas que só são pressentidas por alguém sensível... esta cena é uma delas.
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