Monday, December 05, 2005

Meus versos lavro-os ao rubro


meus versos lavro-os ao rubro

nesta página de terra

que abro em lábio. Descubro-

-lhe a voz que no fundo encerra.

Os versos que faço sou-os

A relha rasga-me a vida

e amarra os sonhos de voos

que eu tinha à terra ferida.

Poema que mais que escrevo

devo-to em vida. No húmus

e regos simples eu levo

os meus desvairados rumos.

Mas mais que poema meu

(que eu nunca soube palavra)

isto que dispo sou eu

Poeta não escrevas lavra.


(Ruy Belo)

Pintura: “Morning” (Caspar David Friedrich)

4 comments:

PDivulg said...

Gostei da pintura que tem um certo aspecto místico.

Amita said...

Ruy Belo é um dos poetas que adoro ler pela subtileza com que trata profundos temas. Ele escreveu:

Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de frutos dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração.

Um bjo, Peter, uma flor e um doce sorriso

Peter said...

amita, muito belo esse poema. Claro que não o conhecia. Não tenho uma cultura poetica, apenas uma certa sensibilidade.

Anonymous said...

Um sensibilidade poética de bom gosto na escolha de toda esta postagem. Beijinhos.