Sunday, March 26, 2006

Mas nem se sabe, amor


uma corrente surda que nos lava
e leva de palavras uma tanta
respiração mordida se enobrece
(andamentos do tempo, lucidez)
mas por baixo dos lagos que reflexo
na cerrada retícula que somos
de vísceras opacas e dos centros
da dor e do prazer uma corrente

ontem, amor, em si se iluminaram
discretamente as pálpebras bebidas
se humedeceu assim o abandono
correndo o púbis enumero a cama
a cércea a relva as silvas tudo junto
ao meu desassossego e adejaram
cortinas nunca mais que espelho a viu
perdendo-a nos meus olhos, amor, ontem

dessas perguntas vário afago e vento
desvelada avidez e toque enxuto
tantas coisas, amor, unicidades
desejo do desejo as utopias
de miúdos vagares tão amiúde
do dia não direi; desperta a noite
assim em toda a vida irei mordendo
mas nem se sabe, amor, dessas perguntas

(Vasco Graça Moura)

3 comments:

Maria said...

Um beijinho para ti e uma boa semana.

vero said...

Passei para deixar um beijinho ***

Heloisa said...

BELO*!
Nao se torna necessario escolher outros adjectivos!
Deixo-LHE um ABRACO*! E, desejo-Lhe continuacao de Boa SAUDE!

Heloisa.
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