Tuesday, April 19, 2005

Eternidade ardente



Todo o desejo quer espaço e quer o seio
de uma eternidade ardente e anelante.
E que a sede estale na cerrada espessura
de outro corpo, nas suas fendas rubras
e na flexível densidade de argila.

Toda a eternidade é esta
fábula viva de enlaces,
de inexoráveis gozos
em que os astros e os deuses
gravitam disseminando
a sua essência vulcânica.

Quantos nomes se acendem para dizer
este vital contacto absoluto:
floresta, pátria, primavera,
esplendor, intensidade, fluidez,
voracidade, embriaguez, vertigem,
sangue da terra, sangue do sol, delírio denso
de árvores que se enovelam e se penetram.

Não precisa de vinho ou de guitarras
a nudez total dos corpos que se entregam.
O amor dá-lhes a mais lúcida visão,
a felicidade viva de emergir no mistério
ou na sagrada plenitude do universo.

(António Ramos Rosa)

1 comment:

Pink said...

Lindíssimo e intensopoema de António Ramos Rosa, poeta que aprecio cada vez mais. Um beijo.