Wednesday, July 06, 2005

Casimiro de Brito – “O Livro das Quedas”

27

“Eu não sei o que faço aqui
sei que faço alguma coisa
pequenas coisas sem importância
às vezes aborreço-me não é grave
fico apenas um pouco mais triste
depois levanto a cabeça
os ombros vacilam
transporto uma loba mas não sei até quando
uma loba que vai deixando o pelo
na casa do poema na cave acumulada
por um sábio que não sabe nada
nem cuidar de si nem cuidar
dos homens –
aparentemente foi tudo morrendo
neste reino de pequenos casamentos
de conveniência: ficaram
a insânia sem garganta e figuras de musgo
que não conhecem a separação entre o ser
e as nuvens
as nuvens que envolvem
os caminhos do corpo
as pegadas de um vírus que não cessa de
cantar o pó, tão fácil
de soprar. Chove. A chuva
pede que me cale”

Sábado (09 JUL 05), em Itália, é distinguido com o Prémio de Melhor Livro Estrangeiro, atribuído ao seu livro “O Livro das Quedas”, um poema enciclopédico de quase mil páginas, escrito durante 9 anos e 47 dias:
“Dia em que nasceu a minha filha e constitui uma reflexão profunda sobre a vida em homenagem ao nascimento dela”, explicou.

3 comments:

Amita said...

Se o mundo não tivesse palavras
a palavra do mar, com toda a sua paixão,
bastava. Não lhe falta
nada: nem o enigma nem
a obsessão. Entregue ao seu ofício
de grande hospitaleiro
o mar é um animal que se refaz
em cada momento.
O amor também. Um mar
de poucas palavras.

"Se" fragmento 117 do Livro das Quedas

Bjo Peter

Peter said...

Um fragmento particularmente interessante.

Heloisa B.P said...

Simplesmente, Maravilhoso!!!!!
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Traz-nos sempre Algo de "mais valia"!...
Abraco!
Heloisa.