Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma ... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas ...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua …, - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois … - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada …
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
José Régio
7 comments:
Em jeito de partilha: "Adão e Eva" de José Régio:
Olhámo-nos um dia,
E cada um de nós sonhou que achara
O par que a alma e a cara lhe pedia.
- E cada um de nós sonhou que o achara...
E entre nós dois
Se deu, depois, o caso da maçã e da serpente,
... Se deu, e se dará continuamente:
Na palma da tua mão,
Me ofertaste, e eu mordi, o fruto do pecado.
- Meu nome é Adão...
E em que furor sagrado
Os nossos corpos nus e desejosos
Como serpentes brancas se enroscaram,
Tentando ser um só!
Ó beijos angustiados e raivosos
Que as nossas pobres bocas se atiraram
Sobre um leito de terra, cinza e pó!
Ó abraços que os braços apertaram,
Dedos que se misturaram!
Ó ânsia que sofreste, ó ânsia que sofri,
Sede que nada mata, ânsia sem fim!
- Tu de entrar em mim,
Eu de entrar em ti.
Assim toda te deste,
E assim todo me dei:
Sobre o teu longo corpo agonizante,
Meu inferno celeste,
Cem vezes morri, prostrado...
Cem vezes ressuscitei
Para uma dor mais vibrante
E um prazer mais torturado.
E enquanto as nossas bocas se esmagavam,
E as doces curvas do teu corpo se ajustavam
Às linhas fortes do meu,
Os nossos olhos muito perto, imensos,
No desespero desse abraço mudo,
Confessaram-se tudo!
... Enquanto nós pairávamos, suspensos
Entre a terra e o céu.
Assim as almas se entregaram,
Como os corpos se tinham entregado,
Assim duas metades se amoldaram
Ante as barbas, que tremeram,
Do velho Pai desprezado!
E assim Eva e Adão se conheceram:
Tu conheceste a força dos meus pulsos,
A miséria do meu ser,
Os recantos da minha humanidade,
A grandeza do meu amor cruel,
Os veios de oiro que o meu barro trouxe...
Eu, os teus nervos convulsos,
O teu poder,
A tua fragilidade
Os sinais da tua pele,
O gosto do teu sangue doce...
Depois...
Depois o quê, amor? Depois, mais nada,
- Que Jeová não sabe perdoar!
O Arcanjo entre nós dois abrira a longa espada...
Continuamos a ser dois,
E nunca nos pudemos penetrar!
amita, já conhecia. De qq modo obrigado. Fica para os que por aqui passarem e que não o conheciam. Sabias que o irmão do José Régio era um pintor muito bom?// A bluegift já voltou de férias. Deixou um comentário a um excelente post do Letras_ao_acaso sobre o assunto nacional de maior gravidade que nos afecta a (quase) todos: os incêndios que devastam o País.
Obrigado pela informaçõo, Peter. Irei espreitar. Já foste ao mail? Uma boa semana, meu amigo, até amanhã.
É tão bom ler-se Régio que conheci pessoalmente.
Tive essa sorte!
mfc, José Maria dos Reis Pereira (José Régio)era irmão de um oficial de Administração Militar, que eu conheci pessoalmente, também poeta, mas sem a notoriedade do irmão e que costumava publicar os seus desenhos numa revista semanal que se publicava em Luanda nos anos 60.
"Nao me pecas palavras"....
.............................PARA QUE PALAVRAS???
Sao, tantas vezes, desnecessarias!
BOM!_Quando sao BELAS COMO *ESTAS*,
deste BELO POEMA, entao tornam-se UMA NECESIDADE PRIMARIA!!!!!!
_OBRIGADA, pelas Suas, meu Amigo, ali junto a minha outra mensagem e, la' no meu modesto cantinho! E... merece TUDO o que la' escrevi, porque eu so' escrevo o que sinto (posso e' nao escrever NADA!...)_bem ou mal!!!!!!!
_FIQUE BEM!
_TEM BELISSIMAS IMAGENS AO LONGO DESTE ESPACO DE *SONS E TONS*!!!
Deixo um Abraco!
Perdoe a ausencia, nao voluntaria!
Heloisa B.P.
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Heloísa, eu compreendo. É sempre bem-vinda.
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