O corpo é todas as coisas
menos a luz que resplandece do teu olhar
menos o azul
que não está nas coisas
nem no céu primaveril que se abre em rosa
nem nas águas cintilantes do oceano
nem nos teus olhos iluminados
pela pueril fragrância das glicínias
todas as coisas
são o universo inteiro que vai além
das coisas que vemos
suspensas nos pilares do tempo
ou as que não vemos
por estarem ocultas na ficção dos espelhos
sempre o corpo
será a perpetuação de todas as coisas
na brevidade dos instantes
menos o nada que nada é fora de si próprio
menos o absoluto
espaço desabitado para lá do portal dos deuses
menos o amor
sempre em viagem na errância do desejo
sempre o corpo será
todas as coisas ígneas a incendiar
a noite e o firmamento incerto
sempre as mãos semearão a pedra entre vagas luas
e os lábios sulcarão os regos do corpo entreaberto
com arados de sangue de saliva e de sémen
sempre o corpo aspirará a ser liberto das cisternas
do medo onde mergulha as raízes
todas as coisas nunca serão no corpo
todas as coisas na sua infinita falta de si mesmo.
(Maria do Céu Brito)
7 comments:
"sempre o corpo aspirará a ser liberto", sim, libertado pelo amor... é essa a sua função primordial!
Adoro vir aqui a este seu cantinho...faz-me sentir muito bem! Obrigada...
Beijinhos***
mfc: Maria do Céu Brito (n.1956),lic Filosofia, nascida no Fundão e prof sec no Faial,onde desenvolve actividades ligadas ao teatro e à animação cultural.
vero, sinto ser um lugar só meu, onde publico o que gosto e quando me apetece e há sempre uma amiga/o que aparece ...
Este jogo de palavras entre o "menos" "sempre" "nunca" torna este poema fabuloso. Bjo
Um poema cuja leitura, mesmo que silenciosa, faz ouvir um canto... apetece declamá-lo!
A tua ausência puxou-me para aqui...
Um bom fim-de-semana, Peter. Bjo
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