Friday, September 01, 2006

O primeiro amor

Há livros que se "devoram" e outros que se "saboreiam", este é um destes últimos.
Na sequência do "beijo", do primeiro beijo de amor trocado entre Irene e Francisco e que publiquei no artigo anterior, leio deliciciado entre as páginas 196 a 199, a descoberta do amor, do verdadeiro amor, por Francisco e também por Irene, uma vez que o relacionamento com o seu eterno noivo, o capitão Gustavo Morante, pouco ou nada tinha de amoroso:

"Irene nunca amara assim ninguém, ignorava aquela entrega sem barreiras, temores ou reservas, não se lembrava de ter sentido tanto prazer, comunicação profunda, reciprocidade. Maravilhada, descobria a forma nova e surpreendente do corpo do amigo, o seu calor, o sabor, o aroma, explorava-o conquistando-o palmo a palmo, semeando-o de carícias acabadas de inventar. Nunca vivera com tanta alegria a festa dos sentidos, eu dou-me a ti, possui-me, recebe-me, porque assim, do mesmo modo, tu dás-me a mim, eu possuo-te, eu recebo-te. Ocultou o rosto no peito dele, aspirando o calor da sua pele, mas ele afastou-a brandamente, para poder fitá-la. O espelho negro e brilhante dos olhos dela devolveu a sua própria imagem embelezada pelo amor retribuido. Passo a passo, percorreram os caminhos de um rito imorredouro. Ela acolheu-o e ele abandonou-se, descendo às águas dos seus mais privados jardins, antecipando-se cada um ao ritmo do outro, avançando para o mesmo fim. Francisco sorriu de absoluta felicidade, porque tinha encontrado a mulher perseguida nas suas fantasias desde a adolescência e buscada em cada corpo ao longo de muitos anos: a amiga, a irmã, a amante, a companheira. Largamente, sem pressa, na paz da noite, habitou nela, detendo-se no limiar de cada sensação, saudando o prazer, possuindo ao mesmo tempo que se entregava."

(Isabel Allende, "De amor e de sombra", DIFEL, 22ª ed Maio 2005)

10 comments:

Heloisa said...

LEIO*, assim, caladinha!.. e, em silencio saio!
"O PRIMEIRO AMOR"
***********************
AGRADECO SUA VISITA!
E... quem disse que "EXAGERO"!???
Nao exagero NUNCA, quando me refiro aqueles que ADMIRO e, por quem tenho AFECTO!

Fica um abraco!
Heloisa.
(Aguardo mais FOTOS, AQUI* e no ***CONVERSAS DE XAXA IV*** )

Rosalina Simão Nunes said...

tem mesmo de ser "saboreado".

Maria Carvalho said...

Um livro lindíssimo! Aacabei de o ler há pouco tempo.

Cris said...

Só gostava de um dia voltar a sentir o que Isabel Allende descreve soberbamente. Tou lamechas!!!!

Bjo
C.

BlueShell said...

Eu também tenho andado fugida....

Li com gosto!

Um bom fds
BShell
0o0o0o0o0

Amita said...

Na escrita de Isabel Allende há muita poesia e estes dois excertos deste livro foram muito bem escolhidos por ti para o demonstrar.
Já tinha saudades de cá vir.
Em breve e finalmente parto para férias. Um bjinho grande, meu amigo

Heloisa said...

Peter*
venho AQUI* deixar-Lhe meu abraco de PARABENS!
_Veja Sua caixa de correio pois enviei cartao! houve um ano, tanto no aniversario como no Natal que nunca chegou a receber meus cartoes! espero que este la' chegue: e' simples, mas e' de coracao com toda a Amizade, Carinho e respeito que Lhe dedico!
Heloisa.
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Peter said...

Heloisa, só voltei hoje a Lisboa e por isso só hoje tive oportunidade de ler o cartão de parabéns que teve a amabilidade de me enviar. É para mim um mistério como soube a data.

Já agora aproveito para lhe enviar igualmente os meus parabéns, uma vez que fazemos anos em dois dias seguidos.

Tudo de melhor para si

Anonymous said...

Este é um dos livros dela que ainda não li.

Aguçaste a minha curiosidade.

Vou juntar a lista daqueles "a ler"

;)

Beijokas

PDivulg said...

Não li mas fica registado.